Saturday, December 30, 2006

Saddam enforcado

Vivos, cacifos e mortos - a mesma luta!

Sinal triste dos tempos, dois textos do Público de hoje abordam várias instâncias de falta de liberdade em Portugal.

José Manuel Fernandes (texto completo aqui):

"Só um burocrata que nunca tenha passeado pelos pontões onde se juntam algumas rotundas barrigas com as suas famílias ou alguém que nunca tenha deixado o bolor da sua repartição pública para experimentar descer uma das falésias do nosso litoral para se aproximar dos melhores pesqueiros pode considerar razoável, ou protector das espécies, impor aos pescadores que estes devem guardar dez metros de distância uns dos outros.

...

A cultura centralista, regulamentadora e castradora do nosso funcionário público é secular. Alimentada pela filosofia "iluminada" de alguns governantes torna-se num patético pesadelo burocrático.
"

Maria Helena Matos (texto completo aqui):

"Por imposição da câmara, todos serão cobertos de forma idêntica "estilizada" - uma lápide com a menção ao morto e um jarro para flores - variando apenas a possibilidade, para os enterramentos católicos, de ser colocada uma cruz à cabeceira (...). O vereador com o pelouro das Obras Municipais, Aires Pereira, explicou ao PÚBLICO que o conceito que a autarquia quis que estivesse presente no novo equipamento foi baseado numa frase: "Iguais a nascer, iguais a morrer"."

...

quem terá dito ao senhor Aires de Oliveira que o gosto dele é melhor do que o daquelas pessoas que, na sua opinião, optam por "decorações excessivas"?

...

Não só executivo algum pode ter o direito de nos impor a igualdade como a igualdade é em si mesma algo de profundamente desumano. Dos pretéritos incas aos contemporâneos norte-coreanos o sonho da igualdade apenas gerou poderes totalitários em que o grupo que controla o acesso aos bens exerce um poder sem limites sobre os restantes cidadãos. Por ironia, não só estas sociedades são profundamente autoritárias como extraordinariamente desiguais. E são tão mais desiguais quanto rígidas."

Monday, December 18, 2006

A esquerda moderna e os tempos modernos

Santana Castilho hoje no Público (texto integral aqui):

"Antes das eleições que lhe deram a maioria absoluta, Sócrates foi questionado sobre a eventual subida do IVA. Respondeu que não perdia tempo com boatos e lembrou que quem havia subido o IVA havia sido o PSD. Mal chegou ao Governo, subiu o IVA.

A bandeira das SCUT foi demasiado agitada por Sócrates para passar de fininho. Em campanha disse branco, no Governo fez preto.

A prioridade de Sócrates, em campanha, eram os idosos. A medida de Sócrates, primeiro-ministro, foi pôr 400.000 mil reformados a pagar mais IRS.

Sócrates na oposição gritou aos quatro ventos que o investimento na saúde era prioritário para o PS. Sócrates, no Governo, disciplinou a hipocondria dos súbditos com a moderação das taxas e rapou do orçamento 0,4 por cento. Ouve o que eu digo, não ligues ao que eu faço!

Sócrates, antes de ser eleito, censurou com denodo o PSD. O PSD tinha feito crescer o desemprego de 4,2 para 6,8 por cento. Sócrates mandou escrever no programa com que se candidatou que o objectivo era recuperar os 150.000 empregos que o PSD tinha perdido. Hoje temos oito por cento de desempregados e as projecções dizem que o número continuará a subir.

..."

Friday, December 8, 2006

Um ministério?

Joaquim Manuel Magalhães hoje no Expresso (texto completo aqui):

"A prioridade do ensino deixou de ser transmitir saberes. Hoje culmina em planificações de um pouco de vazio no máximo de tempo possível. Ouvindo-se a palavra planificar, imediatamente sabemos que as chamadas pedagogias e didácticas passaram a ter o domínio sobre os conteúdos de cada disciplina e gerou-se uma complicação de saberes sem saberes, que consiste na aplicação de umas grelhas às quais se junta um cuspo de meditações bacocas nunca se percebe bem sobre o quê."

Sobre o ensino do Português:

"
Reduziram a qualidade e a necessidade de um texto à noção de que tudo é texto - uma merda qualquer, um jornaleco qualquer - para aí exercitarem o seu ódio ao que não seja o repelente tecnicismo. A par desta enxúndia, por todo o lado se instalou a rameira da didáctica. Mas terá ainda para destruir? Para destruir há sempre algo mais."

Ainda a TLEBS

No Expresso de hoje há um texto de João Andrade Peres sobre a TLEBS. Uma versão desse texto aqui. Um excerto:

"Se alguém tivesse como objectivo contribuir para tornar o ensino do português algo de odioso para os alunos, não poderia ter dado melhor ajuda.

Considero a TLEBS uma calamidade que se abate sobre o país. Por isso, como cidadão e linguista, apelo à Senhora Ministra da Educação no sentido de travar o insano processo da TLEBS. Em nome do rigor e da qualidade científica e a bem do ensino de português, corrija erros alheios, suspendendo a sua aplicação e nomeando de imediato uma comissão de peritos que avalie a situação."

Thursday, December 7, 2006

ANITA O'DAY morreu

Portugal internacionaliza abuso sexual de menores

Do DN de hoje:

"Portugal é um dos países de destino do tráfico de crianças para exploração sexual feito a partir da Letónia. A denúncia foi ontem feita em Riga pela responsável de uma organização letã de defesa dos direitos da criança, e apanhou de surpresa as autoridades portuguesas, que dizem (…)"

Também ouvimos dizer que o Paulo Pedroso vai ser indemnizado pelo Estado português.

No comments...

Selecção de alunos nas escolas públicas

No Público de hoje (texto integral disponível aqui) Isabel Leiria escreve:

As escolas ..."Escolhem quem fica, quando a procura supera a oferta e fazem-no através da constituição de turmas que agrupam os alunos consoante a origem social e trajecto escolar, denunciaram ontem dois investigadores responsáveis pelo trabalho Diversidade e desigualdade na escola, apresentado em Lisboa.
"O sistema discrimina os alunos por escolas, por turmas e por vias de ensino, o que aumenta os processos de desigualdade e guetização social", defende Pedro Abrantes, do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE)."

Citando João Sebastião:
"É uma escola em que de manhã só há turmas de alunos brancos e à tarde estão todos os filhos de africanos, o único aluno deficiente que havia, os que vieram do jardim de infância e foram sinalizados como tendo problemas comportamentais e aqueles que vinham de fora e o estabelecimento de ensino não os conhecia. Isto é prática corrente."

A burocracia estatal é inimiga da transparência e fomenta a corrupção e a injustiça social, mas isto todos sabemos...

Tuesday, December 5, 2006

When we were kings (1972)

LMAO board game strategy

Very Easy Math

O fim das calculadoras!

O lince da malcata está vivo!

Do Público de hoje citamos algumas palavras de António Vilarigues:

"...Conforme definiu o programa do PCP aprovado no VI Congresso realizado clandestinamente em 1965, o regime fascista foi uma ditadura terrorista dos monopólios (associados ao imperialismo) e dos latifundiários - ditadura frontalmente contrária aos interesses do povo português e de Portugal...."

Sobre EPC: "A verdade está na edição do jornal Avante! de 16 de Novembro deste ano[...]"

Sobre a influência dos partidos comunistas: "...África do Sul, onde o sucessor designado de Nelson Mandela, Chris Hani, era o secretário-geral do Partido Comunista. Por isso mesmo foi assassinado em 1993. E onde os comunistas têm um importante papel em todos os níveis do aparelho de Estado. Continuemos por África, Ásia, América do Norte, do Centro e do Sul, Oceânia...."

Monday, November 27, 2006

O futuro da nação

Assim vai a nacional juventude.

Contra as aulas de substituição houve um aluno que disse publicamente algo como: "Os profes têm substitutos, e eu? Quem me substitui quando não vou às aulas?"

O país do execrável TLEBS, do Eduquês dominante, do Sousa Santos, etc. está a ficar um pouco mais grunho... se é possível.

Sunday, November 12, 2006

Catáfora monstruosa

Do Público de dia 9/11/2k6

O monstro
Helena Matos

Palavra lexicalizada; expressão sintática lexicalizada; composto morfo-sintático subordinado; composto morfo-sintático (estrutura de reanálise); composto morfológico coordenado - eis tudo aquilo que está a ser ensinado nas escolas portuguesas para substituir o que gramaticalmente era descrito como palavra composta por justaposição.

Este é um exemplo, mas existem muitíssimos mais da verborreia e da fúria catalogadora que impregnou o trabalho dos autores da Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário, vulgo TLEBS. Nesta nova terminologia, que já está ser introduzida nas escolas portuguesas, complica-se até ao infinito o que era simples - por exemplo, que benefício resulta do ensino de definições como origem deôntica e alvo deôntico no caso das frases imperativas?

Na análise sintáctica constituem-se categorias misteriosíssimas como o sujeito nulo expletivo e erradicaram-se outras, como os complementos circunstanciais, com argumentos saídos duma qualquer revolução cultural: "Na TLEBS não consta a função sintática de complemento circunstancial. Em vez dos "tradicionais" complementos circunstanciais, surgem agora os complementos proposicionais e adverbiais (...), os modificadores preposicionais e adverbiais do grupo verbal (...) e os modificadores adverbiais da frase." Simples não é?

Noutros casos multiplicam-se categorias e subcategorias numa espiral ininteligível. Por exemplo, os antigos substantivos, posteriormente passados a nomes, entraram agora numa roda-viva de nome agentivo, nome de acção, nome de qualidade, nome humano e não humano, animado e não animado, nome contável e nome não contável... definições essas que dificilmente resistirão a uma explicação numa aula real, com alunos reais. O mesmo é válido para duas categorias de adjectivos criadas pelos autores da TLEBS: os adjectivos relacionais e de possibilidade.
Misterioso é o destino do género na TLEBS, ou seja, a divisão entre masculino e feminino.

Revolvi o documento da TLEBS e foi preciso chegar ao detalhe dos nomes uniformes para encontrar uma referência ao conceito de género. Mais precisamente os nomes uniformes quanto ao género podem ser: epicenos; sobrecomuns e comuns de dois. Palavras como baleia, águia, criança, vítima, cônjuge, artista, cliente, estudante e jovem ilustram estas categorias. Para melhor ilustração dos leitores acrescento que a águia e a baleia são epicenos quanto ao género.

Criança, vítima, cônjuge são sobrecomuns. Quanto aos comuns de dois, segundos os autores da TLEBS, palavras como artista, cliente, estudante e jovem cumprem os requisitos para se ser comum de dois. Quanto aos outros nomes e adjectivos presumo que não têm género ou que, pelo menos, o dito não responde por essa designação.

Tendo em conta o que sei até agora sobre a TLEBS é natural que registe com agrado o facto de algumas escolas terem encerrado graças à greve dos trabalhadores da função pública. Pior do que uma aula não dada é uma aula onde se ensine isto. Há décadas que os portugueses assistem com um fatalismo inamovível à degradação do ensino em nome da pedagogia, do progresso, do sucesso... Tivemos de tudo e para todos os gostos. A mania dos trabalhos de grupo que todos sabiam ser feitos apenas pelas raparigas do dito grupo; a ideia do ensino lúdico que levou a que desde as contas de dividir até a Platão... No caso do Português de mania em mania fabricaram-se gerações de analfabetos. Adolescentes afogados em livros e jogos didácticos lêem a gaguejar e expressam-se com mais dificuldade do que os seus pais e avós que apenas fizeram a escola primária. Esta espécie de cidadãos semianalfabetos que concluíram o 9º ano não sofre de insucesso escolar. Antes pelo contrário, estes adolescentes são o resultado do sucesso das sucessivas modas pedagógicas que têm estado subjacentes à concepção dos programas e neste caso particular sobretudo dos programas de Português.

A TLEBS arrisca-se a repetir no início século XXI o mesmo desastroso processo protagonizado pelas "árvores" nos anos 80 e ambos os desastres partem do mesmo erro: o de confundir as aulas dos ensinos básico e secundário de Português com um curso abreviado de Linguística. Aliás, um dos aspectos mais perturbantes de toda a concepção das aulas de Português subjacente à TLEBS é que ela sobrevaloriza a fala, a oralidade em detrimento do texto e da literatura. Primeiro arreigou-se nos espíritos a convicção de que os alunos não se sentiam estimulados com textos literários antigos. Posteriormente já nem os escritores modernos serviam. Os textos literários foram dando lugar a prosas actuais de jornalistas. Por fim nem esses. Seguiram-se-lhes os regulamentos dos concursos televisivos... Com a TLEBS e este império da linguística os alunos vão acabar a analisar os actos de fala da conferência de imprensa da véspera ou da conversa do autocarro. Contudo, ninguém perceberá a conferência de imprensa da véspera, se não tiver lido autores como o Padre António Vieira. E qualquer conversa em português ganha outro brilho quando se leu Eça.

Dentro de alguns anos os manuais escolares contendo as definições da TLEBS sobre as máximas conversacionais e os actos locutórios, perlocutórios e ilocutórios farão sorrir quem os abrir. Tal como hoje acontece com os manuais em que frases devidamente escolhidas eram esquartejadas com setinhas e rectângulos de modo a ilustrarem a florestal visão chomskyana da língua. Como sou empedernidamente optimista sou levada a crer que algo impedirá mais este desastre devidamente anunciado. E sem desejar mal a quem quer que seja espero que à TLEBS venha a ser reservado o mesmo destino que aos estudos de João Bonança.

Oficialmente João Bonança "notabilizou-se como jornalista, escritor, político e cientista", tendo até sido candidato à Presidência da República em 1911. Os seus conterrâneos algarvios multiplicam-lhe orgulhosos o nome em placas toponímicas e, contudo, João Bonança protagoniza um dos casos mais extraordinários do conhecimento ou mais precisamente da presunção dele: tendo dedicado largo tempo da sua vida à redacção duma História da Lusitânia e da Ibéria desde os Tempos Primitivos ao Estabelecimento Definitivo do Domínio Romano, João Bonança não só nunca passou da demarcação das eras da geologia, como enveredou por uma peregriníssima concepção da origem da vida na Terra e das suas diferentes fases. Quaisquer factos que contrariassem as suas teses apenas reforçavam o lado fantasioso das suas explicações, e assim de hipótese fantasista em hipótese ainda mais fantasista João Bonança redigiu algumas das mais inúteis páginas da ciência em Portugal.

Confesso que aguardo pelo dia em que os manuais da Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário repousem em paz ao lado da História da Lusitânia e da Ibéria desde os Tempos Primitivos ao Estabelecimento Definitivo do Domínio Romano.