Monday, August 18, 2008

Monday, August 4, 2008

Costa Martins dixit

Do Público de hoje. (Sim, este grunho foi nosso ministro. Olhem: Coronel-Piloto-Aviador. Ex-membro da Comissão Coordenadora do MFA, do Conselho de Estado, do Conselho da Revolução e do Conselho dos Vinte. Ex-Ministro do Trabalho do II ,III, IV e V Governos Provisórios).

A crise internacional e a guerra surda EUA-UE
04.08.2008, Costa Martins

Bush pode promover um ataque ao Irão para dificultar o acesso da UE ao petróleo do Médio Oriente

Aquando da invasão do Iraque pelos EUA escrevi um artigo, publicado neste jornal, onde referi que o verdadeiro móbil dessa invasão decorria, essencialmente, da guerra surda económica-financeira dos EUA com a União Europeia (UE). Os EUA consideraram a UE como o seu principal adversário no plano económico/financeiro e procuraram impedir que ela crescesse e se consolidasse em termos de vir a destroná-los na liderança da economia mundial. O facto de a UE integrar vários países que são seus aliados político-
-militares confere delicadeza a essa guerra surda.

Os EUA definiram como estratégia o controlo das grandes plataformas petrolíferas internacionais para, através do controlo do preço do petróleo, condicionarem a competitividade dos produtos da UE face aos seus e travarem o desenvolvimento da China e da Índia, que começava a despertar com visibilidade.

Nessa estratégia consertou-se em triunvirato com a Inglaterra e a Austrália. Mas a invasão do Iraque revelou-se um desastre. Os EUA não conseguiram a ocupação das grandes plataformas petrolíferas mundiais nem o controlo do petróleo, o que os impossibilitou de impor aos outros países preços mais gravosos para o importante factor de produção que é o petróleo. Meteram-se num atoleiro político-militar do qual não sabem como sair e cujos custos tem empurrado a sua economia para a exaustão.

Os abaixamentos das taxas de juros a que a Reserva Federal tem recorrido para tentar estimular o arranque da economia não só não têm produzido os efeitos pretendidos, como têm sido aproveitados pela UE para tirar vantagens no campo financeiro, através da política seguida pelo Banco Central Europeu (BCE), que tem procedido a constantes aumentos das suas taxas de juros - não por causa da inflação, como é dito, mas sim visando aumentar o diferencial entre as taxas dos EUA e as da UE, fomentando, assim, a migração dos grandes capitais internacionais, em favor da UE, com o consequente agravamento da situação financeira americana.

A delicada situação dos EUA, nomeadamente económica e financeira, agravada pela fuga de capitais, tem levado à constante desvalorização do dólar que, por ser ainda a moeda de referência nos negócios do petróleo, tem contribuído para a constante subida do preço deste produto, dificultando, ainda mais, o arranque da economia dos EUA, que se apresentam cada vez mais fragilizados para continuar a desempenhar a função de motor da economia mundial.

Por outro lado, a política de aumento das taxas de juros seguida pelo BCE na guerra surda entre a UE e os EUA tem contribuído para a valorização do euro e para a sua afirmação como moeda forte internacional, ameaçando destronar o dólar.

As constantes valorizações do euro e desvalorizações do dólar, conjugadas com o facto de o dólar ser ainda a moeda de referência nos negócios, têm levado a que, em termos comparativos, a UE tivesse passado a comprar o petróleo a preços bastante mais baixos que os EUA - ou seja, na estratégia de Bush, virou-se o feitiço contra o feiticeiro.

Agora que a UE já marcou a sua posição e o euro já se afirmou como a moeda forte na cena internacional, o BCE, visando o relançamento da economia e o aumento das exportações, irá, certamente, começar a baixar as taxas de juros, ainda que cuidadosamente e procurando mantê-las superiores às dos EUA, embora com um diferencial mais reduzido.

A saída da crise, designada internacional, mas que se circunscreve essencialmente aos EUA e à UE, apresenta-se mais difícil na medida em que a UE não se encontra ainda em condições de assumir o papel de motor da economia mundial - situação que se complicou com o "não" da Irlanda ao Tratado de Lisboa - enquanto que os EUA se apresentam demasiado fragilizados para continuarem a sê-lo.

Bush, em desespero, quer lançar mão do petróleo existente nas jazidas estratégicas americanas. Esperemos que a recente e inesperada abertura da sua Administração ao diálogo directo com o Irão não se destine a usar uma eventual recusa do Irão em cumprir inteiramente as condições que lhe forem apresentadas como justificação para um ataque àquele país, a levar a cabo por Forças Armadas dos EUA ou por outras interpostas forças, o que se afigura mais provável.

É que, tendo a estratégia do controlo do preço do petróleo inicialmente congeminada tido consequências desastrosas, Bush, se tiver o abastecimento de petróleo aos EUA garantido directamente pela exploração das jazidas americanas, pode, para culminar a sua brilhante actuação, promover um ataque ao Irão em forma de despedida. Isso levaria ao incendiar do Médio Oriente e à interdição das rotas marítimas que lhe dão acesso, nomeadamente através do estreito de Ormuz, impossibilitando o abastecimento de petróleo à UE e a outros países não produtores, enquanto que, paralelamente, os EUA teriam garantida a satisfação das suas necessidades com o seu próprio petróleo e ao preço do custo da exploração.

A crise internacional está a mostrar à Europa que o bom senso e realismo político impõem um estreitamento de cooperação, no respeito mútuo, entre os países da bacia do Mediterrâneo, que o Presidente francês, em nome da UE, parece estar a pretender pôr em prática, e que será muito útil para atenuar e esbater eventuais tensões de carácter cultural e fomentar laços de amizade entre os vários povos, e que será a base de uma desejável convivência pacífica. Obama, a avaliar pelo seu recente discurso realista, em Berlim, parece não querer "perder o comboio" da Europa.

Coronel-Piloto-Aviador. Ex-membro da Comissão Coordenadora do MFA, do Conselho de Estado, do Conselho da Revolução e do Conselho dos Vinte. Ex-Ministro do Trabalho do II ,III, IV e V Governos Provisórios

Sunday, August 3, 2008

O Fim das Notas = Sucesso para todos!

Do Público de hoje:


As escolas devem pagar aos alunos que tiram boas notas?
03.08.2008, Natália Faria
Acenar com dinheiro pode ajudar
a tirar boas notas? Talvez, respondem os especialistas, mas isso é assumir o total falhanço da Escola
Dar dinheiro aos alunos que tiram boas notas nas escolas públicas é uma prática que está a ganhar cada vez mais adeptos. No Brasil, no México, mas também em Nova Iorque, nos EUA, onde os pedagogos anseiam pelos resultados de um projecto experimental que prevê o pagamento de alguns dólares aos estudantes que tiram boas notas nos exames e que abrange 58 escolas daquele Estado.

Por cá, a moda ainda não pegou. O máximo a que se chegou foi à criação dos prémios de mérito, mediante os quais o Ministério da Educação prevê a atribuição de um prémio de 500 euros aos melhores alunos do ensino secundário, já no próximo dia 12 de Setembro. Esta tendência, porém, está a preocupar os especialistas ouvidos pelo PÚBLICO, que se mostram receosos quanto aos efeitos que esta importação do modelo empresarial para as escolas poderá ter no desenvolvimento dos alunos.

"Tudo isto é uma deturpação dos valores que a escola deve passar e que devem ir no sentido de criar cidadãos conscientes e intervenientes na sociedade porque querem ser felizes. E isto não se faz pondo as crianças a cumprir tarefas a troco de dinheiro", considera a psicóloga Rita Xarepe, para quem "é errado pensar-se que os miúdos não são melhores alunos porque não querem e que passarão a sê-lo a troco de dinheiro".

A partir da experiência que decorre em Nova Iorque e que abrange crianças dos oito aos 11 anos de idade, muitas das quais provenientes de meios marcados por fenómenos como o abandono escolar e a exclusão social, Rita Xarepe diz temer também os efeitos que tal prática terá na relação das crianças com a família. "Imagine a pressão de uma família sobre uma criança que deve ir à escola e ganhar dinheiro: já não lhe basta sentir que não é boa aluna e ainda tem que sentir que não está a levar dinheiro para casa e que a responsabilidade é dela."

O pedagogo Sérgio Niza também olha horrorizado para a remuneração do desempenho escolar. "É um truque ridículo que assenta na brutal ignorância dos governantes acerca das questões da Educação", qualifica este professor no Instituto de Psicologia Aplicada, lamentando que "as pessoas que gerem a Educação tenham esquecido que esta é um contrato de natureza social, onde adultos e jovens se comprometem entre si a atingir metas de conhecimento".

Fundador da "Escola Moderna" - um movimento de professores que aposta na maior participação dos alunos na aprendizagem -, Sérgio Niza acrescenta em tom de alerta que "o comércio e o lucro não são os valores adequados para preservar e promover a responsabilidade".

Na mesma lógica de raciocínio, Rui Trindade, professor da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, diz que "não é através de prémios financeiros que se resolve o problema da falta de sentido da escola". "Não me admiraria se os meninos começassem a viver na competição e se metessem a fazer batota ou a tomar drunfos para aguentar", antevê, insistindo que o desafio a não perder de vista é conseguir que a escola faça sentido para os alunos.
"Eu, como professor, tenho que ser capaz de imprimir um sentido àquilo que peço aos meus alunos e de lhes transmitir que o exercício que lhes estou a pedir lhes permitirá dar um salto em frente e que isso nem sempre é uma coisa lúdica, que implique recompensa imediata."

Noutra perspectiva, este "abrir da caixa de Pandora", como qualifica Rui Trindade, poderá deixar para trás os que têm mais dificuldade em obter boas notas. "Se os bons alunos são bons alunos, por que é que precisam de receber dinheiro? Não conseguimos que eles tirem prazer do facto de serem bons alunos sem ser pagand-lhes? Por outro lado, já tive crianças que nunca tinham tido uma positiva e que, por via do esforço e investimento, tiveram um dia um dez. Eu quero saber se essa gente não tem que ser valorizada pelo esforço que fez."

Sérgio Niza vai mais longe ao considerar que "não viria mal nenhum ao mundo se deixasse de haver atribuição de notas nas escolas". A quem o ouve com cepticismo, o pedagogo aponta o exemplo da Finlândia, país que obteve a melhor classificação nos três últimos Pisa - o programa de avaliação de alunos que abrange estudantes do ensino secundário de 57 países. "Na Finlândia, não há exames e os alunos progridem automaticamente, porque lá, em vez de se gastar brutalidades com alunos a repetir anos inteiros, o dinheiro é aplicado em professores auxiliares e assistentes que se vão encarregando dentro das salas de aula de não deixar atrasar os alunos."

Olhando para a realidade portuguesa, o pedagogo lamenta que se tenha enveredado pelo caminho da competição dentro das escolas, antes de apontar o que considera ter sido um erro crasso da actual ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, "que resolveu tornar públicos os resultados das provas aferidas, independentemente de dizer que não reprova as crianças".

"Os professores começaram a reter os alunos no segundo e terceiro anos para não chegarem ao quarto e sentirem vergonha por ver maus resultados dos seus alunos expostos perante todos."